by Max Barry

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Region: Novo Brasil

#NovoEsmorecer (continuação)
Após a grande rachadura o mundo acabou-se. Como diria o poeta, “mataram o antigamente”. Começou o ano Zero. Desde então Johansy está à deriva. Pobre Kaik Oneb, tão jovem mandado para uma grande missão que nunca poderia cumprir, perdido em um limbo de desacontecimentos passados. Ele agora confunde-se com a própria Marguerite Hugot de Liszteria. Passaram a ser a mesma e indiscernível coisa num afogamento universal em uma terra que já não existe mais. Como eles também o Le Financière se afundou em um mar de nulidade financeira herakklitiana. Ninguém se lembra mais deles, a não ser este teimoso e insano historiador. Quem se importa? As coisas em Johansy também mudaram muito. Ex-velestianos perderam sua identidade e se tornaram zumbis, em pé, parados como estátuas pelas ruas. Ninguém sabe se estão vivos ou mortos, pois não movem e não apodrecem. Yuri Halpas perdeu toda sua força junto com eles. Mas não, não pensem que Petros pode se reerguer com o Bando Sagrado. Tampouco esperem que Hector Villagran tenha tido grande glória. Os dois grupos perderam tudo que tinham quando Heremusia se separou de Johansy e naufragou. Não há mais comércio a fazer. Não há mais lugar para ir. Não há mais de onde trazer nada. Nem mesmo há como contrabandear. Estamos à deriva. Sozinhos em um mundo de esquecimentos. Tudo ao nosso redor virou Mezumo. Sem camarões, sem peixes. Até nossa mãe znalote foi embora. Entre prédios em ruínas em meio a uma floresta de liames, pareço ser o último que se esforça em lembrar. Nosso povo foi à loucura acreditando que um grande ente superior acabara com o mundo. Falavam que éramos os escolhidos. Igrejas alissensses floresceram com toda força. Os cassinos foram destruídos, muitos dos antigos senadores foram quase todos mortos. Mas quando vimos que o mundo se foi e ficamos nós, mesmo esse impulso milenarista faleceu, e muitos não resistiram à ideia de que, se existe tal Ente, o tal Yan Dirá, afinal, fomos nós que fomos deixados para trás. Talvez não tenhamos entendido a promessa do novo mundo. Como nada mais se encaixava em nossa terra, muitos foram os que se atiraram no mar sombrio. Escapei deste trágico fim escrevendo, escrevendo antes que minhas próprias ideias me consumissem. E foi assim que mantive as lembranças do que eu mesmo já duvido que passou. Dessas pessoas que já duvido que existiram. Apenas consigo manter meus pensamentos porque o prédio de nosso outrora glorioso Senado ainda permanece em pé como prova, marcado pelas balas que feriram suas entranhas. Mas a mata já o cerca e em breve ele também ruirá. Penso que com ele poderá ir por terra minha própria sanidade. E temo. Temo pelo futuro de nossos selvagens e embrutecidos johansyanos que resistem nesta terra de solidão e esquecimento, onde o tempo não existe mais. Onde o espaço já não faz sentido. Onde somos o antigamente. Assassinados brutalmente.

Raphael Christophe

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