by Max Barry

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Region: Novo Brasil

Em algum momento, séculos antes...

—Eu sou Oris, vim como escravo dos campos de Aldeera, onde a fome reinava e eu tive de enterrar meus três irmãozinhos com as minhas próprias mãos porque eles morreram de fome, Altezas. Não me restou nada, e poderia ter morrido naquele navio, mas encontrei alguém que é tudo o que sobrou. Ia é o que sobrou da minha vida... se é que aquilo era viver...

As duas figuras majestosas olharam para o rapaz esquálido de cabelos cinzentos que seguia desfiando suas lamúrias. De joelhos, encostava ainda a cabeça no chão, como numa súplica, continuou contando sua trágica vida.

—Não havia pão, nem farinha, nem trigo, nem sequer havia bolotas ou cogumelos, pois nada mais brotava daquela terra árida. Se invadíssemos as terras privadas, seríamos mortos da maneira mais cruel possível. Queimados, desmembrados. Meu tio foi desmembrado ainda vivo porque roubou uma ovelha de um fazendeiro. Aquilo era um inferno... Graças a Deus voc...

O homem foi interrompido por uma voz feminina, mas quase andrógina.

—Deus? Que é isto? Este é um delirante, decerto. Tirem este servo e suas histórias inúteis daqui. Ele não tem o que falar e está desperdiçando nosso tempo! Deem a mulher ao outro, como foi da soberana vontade dos nossos...

—NÃO! - O homem se debateu quando a guarda tentou pegá-lo - eu imploro... Altezas... Tudo, qualquer coisa. Me ordenem. Mas permitam que Ia fique comigo. Ela é tudo o que restou do que era a minha vida. Ela não sabe de nada. Ela não fala outra língua. Não deixem ela ir com um estranho.

—Aceite o seu destino! Ela é uma mulher fértil e a vontade dos nossos soberanos é que ela seja uma mãe de filhos fortes. - o guarda andrógino esbravejou.

O tempo pareceu parar por um instante, enquanto as figuras majestosas decidiam o futuro de uma mulher, que era disputada por dois servos. O mais forte a havia recebido, mas ainda não se unira a ela pois o outro reclamara que eles haviam vindo como escravos da mesma localidade. De acordo com a política de união de servos, mulheres férteis deviam ser unidas a homens fortes para fornecerem boa prole às Cidades Livres.

A figura majestosa no trono à direita, cuja aparência era de um homem de vinte e poucos anos, de cabelos lisos sobre os ombros sem barba e com uma espécie de maquiagem cerimonial no rosto, olhou para a figura majestosa no trono à esquerda, cuja aparência era extremamente similar, mas tinha a aparência feminina. Não fossem os traços identificadores de sexo, diriam que eram duas pessoas iguais. A figura majestosa no trono à esquerda levantou a mão direita, acenando levemente com a palma virada para cima.

—Aeon, meu irmão, meu servo, meu imperador e meu marido. Ouve! Sou Aenys, soberana das Terras Livres, a safira de Seree'n. Vê o que nos traz o destino!

A outra figura majestosa repete o mesmo gesto e responde:

—Aenys, minha irmã, minha serva, minha imperatriz e minha esposa. Ouve! Sou Aeon, soberano das Terras Livres, o diamante de Eo'navia. A ti o destino pertence. A minha Aenys quer vê-la. Mandem trazê-la. Aenys é soberana sobre todas as mulheres, e jamais permitirá que uma de suas amadas servas seja maltratada.

Ia era uma garota de quatorze ou quinze anos. O guarda andrógino a trouxe e a colocou em frente à Imperatriz. Claramente não era uma menina saudável, estava maltrapilha e magra. A sujeira em seus cabelos no entanto revelava uma cor acinzentada como a dos Cabelos de Oris.

A Imperatriz se levantou e perguntou:

—Você fala a minha língua?

Ia curvou-se e balbuciou:

—Não... por favor... Alteza... Eu... Ia... it veena se'ari Aldeera.
(Ia... uma pobre menina de Aldeera)

—Ooh, shhh... veena Ia(Pobrezinha...)Eu... Aenys... Rhea... Alteza.

A imperatriz tocou os cabelos empoeirados de Ia, que voltou a levantar o rosto, humildemente, e baixou de novo.

—Esposa minha, o que me dizes? - Aeon perguntou-lhe com pompa.

—O destino prega peças, Marido. Disse-lhe no leito que precisávamos de estátuas, e deste-me uma pedra de Seree'n. O ocaso de Aldeera nos trouxe o que precisávamos. Veja a rocha diante de si... As hábeis ferramentas do marido haverão de esculpir um monumento.

Os soberanos conversavam entre si através de metáforas, eufemismos e palavras pré-definidas. Era sua linguagem secreta. Entendendo tudo o que Aenys lhe falara, Aeon levantou-se e olhou para os guardas.

—Saiam. Nossa soberana vontade é piedosa. Ouvimos e decidimos, estes dois serão nossos servos. Se uma vez mais os guardas tratarem crianças como mulheres férteis, pediremos suas cabeças. Em Hg'arth meninas pequenas são dadas a homens, não nas Terras Livres. Doze, vá até Aella e diga que a queremos aqui de imediato.

O Guarda Andrógino fez uma continência e saiu primeiro. Depois dela/dele, os demais guardas saíram. Oris, que acompanhara tudo de cabeça baixa, levantou.

—Obrigado, Alteza. Minha vida a vós...

—Chega. Calado. És o meu servo, falas apenas se eu quiser. Apressa-te em calar. Serás a minha estátua, e estátuas não falam. - o soberano parecia incomodado ao falar, mas a expressão de poucos amigos durou só uns segundos.

—Dois servos de Aldeera! São gente cinzenta então... Bem... Eram. Esses dois são as estátuas?

—Oris e Ia. Faça-nos perfeitos. - disse a Imperatriz.

Ia, assustada, se aproximou-se de Oris.

—Sa, it Aldeera?
(Você é de Aldera?)

—Oris. it Aldeera. it davis Aldeera, sa Ia. Kosorez sa. Sa Daea daas.
Sou Oris, um de Aldeera. Um de Davís, Aldera. Você é a Ia. Eu te conheço, você falava com Daea.

—Ia misme davis. Sae... Oris? Oris neno Daea?
Sou Ia, também de Davís. Você é Oris? Oris, irmão de Daea?

—Iss... Oris neno Daea. Ia daas Heems?
Sim, Oris irmão de Daea. Ia, você fala Heems? (a língua das Terras Livres)

—Net. Ia daas net. Vat Rhea daas?
Não, eu não falo. O que a Imperatriz fala?

—Oris net kosorez. Rhea, Rhe ac maaea daas Ia ac Oris. Ia ac Oris tulle sunt Rhea ac Rhe patsae. Patsa?
Eu não entendi. A Imperatriz, o Imperador e essa mulher estão falando de nós. Ia e Oris vão ser Estátuas da Imperatriz e do Imperador. Estátuas?

Sua conversa foi interrompida pela terceira mulher.

—Net patsae. Kaksoie. Ia tulle sunt Aenys kaksoi. Sa tulle sunt Aeon kaksoi. Sae tulle vaate asa rhes, sunt ilmest asa rhes, tulle kaksoi ac rhes tulle lepos.
Não estátuas. Cópias. Ia será uma cópia de Aenys. Você será uma cópia de Aeon. Vocês se vestirão como os Imperadores e aparecerão como eles, serão as cópias e os Imperadores terão descanso.

Lysandus, Nebthet, Freny, Abslandia, and 2 othersRubrayev, and Brolhetaria

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